Ao escutar bossa nova II
- ayraokuzono
- 3 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de fev. de 2021

Tão alto que cabe duas de mim. De pele macia e quente. Olhos claros, pra eu enxergar a variação de cor. O verde do mato ou o azul do oceano (ah, como eu amo isso sendo exposto pelo sol!). Mais manso que eu e tão impulsivo quanto. Zeloso, como o pai que nunca tive. Desatento, esquece todo dia a toalha sobre a cama e meu chá no micro-ondas. Corta minhas frutas, enrola nosso cigarro e me ama, durante cinco minutos pela manhã.
Não me dá atenção durante o dia, mas não me esquece. Lapsos textuais ocorrem em determinados dias, quase todos, na verdade. Coisas sem sentidos, porque ele sabe que esse é meu tipo de humor. Me conhece tanto ao ponto de me deixar sozinha, de tão cheia que me faz sentir. Ele leria essa parte e diria que sou eu, negando e admitindo nosso funcionamento diário. Odeio rotina, mas ele ama, e a gente senta na varanda, abre uma cerveja e ri desse descompasso. Sou pra ele como o mar é pros humanos, consegue viver sem, mas decidiu não o fazer. Ele é a infinidade que eu nunca achei que iria encontrar e que, em muitos momentos, senti não merecer.
Ele entende meus doeres, que mudam o tempo inteiro e continuam os mesmo - meu paradoxo preferido, ele não gosta tanto, porque diz que é difícil me ver sofrer. Ele muda, em um ritmo mais acelerado que o meu, mas não me larga, coloca do lado e seguimos juntos. Olha pra mim e diz: é por isso que a gente se escolhe, quase sempre. Não me tem numa estante, mas nos seus braços que, por sinal, parecem ser os maiores do mundo.
As vezes some, porque se perde em seu próprio labirinto. Me comunica quando ocorre, raramente pede auxilio, mas aceita e enxerga quando eu o dou, mesmo sem pedir ou admitir. Na maioria das noites, me acompanha na reflexão sonora e literária. Ama as palavras como eu. Me vê como parceira, companheira e bailarina. Sempre fica na porta ao chegar tarde, fitando-me no movimento descompassado da dança, que sempre insisto em fazer. Ri, e sai caminhando para me abraçar. Balança pra lá e pra cá, diz me amar, fazendo o abraço durar a eternidade da memória. Nossas memórias.
Vivemos livres. Ele vê meu desequilíbrio como a estrela mais brilhante do meu céu. Observa, não tanto quanto eu, mas age muito mais.
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