Quando recolho

Fonte: Tumblr.

Meu cabelo é verde e, agora, tenho toque de recolher. Guardo-me em um abraço, as vezes na coberta ou, até mesmo, em pequenos cacos do pensar. Tenho me locomovido, como quem transita por diversos mundos, não pertencendo a nenhum, mas desfrutando de cada um. Extremamente delicada. Tenho olhado tudo, observado cada falar. Minha marte é fixa em aquário, não me espanta o funcionamento instável. Demorei anos para alcançar o que sinto nesse pequeno fragmento de tempo, dessa vida rápida, que acaba no próximo momento. Queria conseguir transcrever, nessas palavras, todas as descobertas que tenho feito. A vida inteira tentei executar, com perfeição, tal movimento. Só agora, consigo apreciar essa distância que tomei (mesmo ela não sendo, sempre, agradável.). Minha antropologia experimenta um auge, pessoal, claro! Nunca se desvinculou disso, mesmo que eu tentasse.

Aprendi a manusear a vida, como faço com a agulha ao bordar. Fernando Pessoa que já sabia, tinha a certeza que iria, um dia, ocupar esse lugar. A agulha, nem sempre, entra fácil pelo tecido, é preciso, muitas vezes, empurrar. Mas ela continua varando, seguindo o ritmo do meu tango. Sou bordadeira, artesã das coisas. Antropóloga da vida, sendo eu, meu objeto preferido de análise. Encontro tudo que preciso aqui dentro, é só eu lembrar de respirar.

O Chá sempre esfria e eu sempre o tomo. Gosto, tanto quanto quando estava quente, aprendi a apreciar. Sou analista por natureza, mas muito curiosa, praticamente uma tola, porque gosto de tentar o novo, o mais distante a se alcançar. Sim, quando concretizo logo enjoo, isso não faz de mim mais descuidada. Na verdade, nunca fui tão atenta e amorosa, mas é do meu jeito, intraduzível e foge a compreensão do olhar – do outro. Sei lá, não importa muito essa transcrição. Me embrulho a solidão e deito, meditando até meu olho fechar. Boa noite ou bom dia, não sei nada sobre a sua vida, mas desejo todo o amor que eu sou capaz de dar.